domingo, 25 de setembro de 2011

1 ou 2 contentamentos comedidos

2. também veio a imensa necessidade de estar parado, dar abertura a esta frustração gigante que se avizinha, abrir a porta de verdade, abrir a porta a outra coisa, acumular forças sem as acumular, vão-se acumulando, ir parando, alentando-se como velocidade, como potencia, como grito. Tempo e tempo e tempo no tempo, e ter realmente tempo, desfrutar de ter tempo, odiar que o tempo se apodere da coisa, eu coisa no tempo, deixar de ser coisa e passar a ser tempo. Esse nada que brinda o espaço, o nada enchendo-se de movimento para nada, sem se fazer nada. Ou nada enchendo-se de aborrecimento, de nada que não precisa de outra coisa. É meu poço, meu túnel (gostaba de tirar fora o "meu"). É poço, é tunel. Observo-me decorando o nada com ornamentos, tipo gestos, acções, e ao me observar me estou pondo lá, já em algum lugar, e ao me observar esqueço-me de que poderia não... poderia não? Acaso se pode o não? (poderia não estar lá estando la?) É uma angustia para mim propor-me esse lugar, falar desse lugar para vocês palavras, e para vocês mais que palavras. Deixar de ser um lugar para ser olhado, ir deixando de ser lugar, deixar de ser lugar. Como aquela escrita microscópica de Walser que procurava ir sendo tão pequenina, mas tão pequenina que ia desaparecendo nos rumores e murmúrios que a desperteneciam. Rumores e murmúrios são assim coisas inclassificáveis que formam frases ultra complexas agarradas entre elas, ou línguas inteiras em andamento numa frequência no limite. Não gosto de ver meu limite na frustração, no desencontro, o limite acho também pode ser suave como a pele, será que pode ser? Hoje cortei-me no limite da frustração, cortei-me a pele, algo saindo para fora, as ambulâncias, a violência toda com sabor a sal. Nesse momento parei, deixei de estar lá e só então pensei depois que poderia estar lá. É sim, podia-se não. Outra arquitectura, geologia, fisiologia que não estaria a se olhar desde fora. Parar de fazer mas fazendo, fazer parado, só isso me ronda na volta, se foi embora a exposição, se foi embora a potencia, algo mais ténue, uma existência menos insistente em existir ou talvez hoje foi um dia muito difícil.

2 comentários:

  1. MUITO BEM!!! NÃO SEI O QUE DIZER, ADOREI OS TEXTOS, É ISSO. Vou usá-lo nas minhas conversas, nas minhas aulas, nos meus textos, pode? estou mandando também para o facebook, mesmo que você não deixe, agora ja foi!
    beijos

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  2. Tal vez encontrarse y reencontrarse sea de nuestro destino su destino. Y volver de nuevo caminar las distintas formas, las igualísimas, las dispares, las desconocidas formas que nos unen. ¿Transitaremos entonces? Transitaremos hasta vernos frente a frente y darnos, como debe ser: un apretadísimo abrazo con los brazos, las manos, dedos y uñas al mismo tiempo...

    Cristóbal Barreto

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